sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

ANO NOVO TRISTE: MÚSICA PERDE GILBERTO MENDES


Morreu na noite desta sexta-feira (1º), aos 93 anos,  o maestro e compositor Gilberto Mendes em Santos.  Ele estava internado desde a véspera do Natal na Unidade de Tratamento Intensivo (UIT) da Santa Casa de Santos devido a problemas respiratórios. Sofria de asma e teve uma crise, segundo o escritor Flávio Viegas Amoreira. Morreu às 18h40, por falência múltipla de órgãos.  Gilberto era casado há 40 anos e tinha três filhos, um deles já falecido. 

O corpo do compositor será velado a partir das 21 horas na Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, e cremado no mesmo local, em horário a ser definido. 


O maestro e compositor Gilberto Ambrosio Garcia Mendes nasceu em Santos, no dia 13 de outubro de 1922. Filho de Ana Garcia Mendes e Odorico Mendes, se definia um homem de beira-mar, que gostava de caminhar pela praia ao lado da esposa Eliane Ghigonetto. 

Gilberto fez o primário entre São Paulo e Santos. Iniciou seus estudos de música aos 18 anos, no Conservatório Musical de Santos, com Savino de Benedictis e Antonieta Rudge. Praticamente autodidata em composição, compôs sob orientação de Cláudio Santoro e Olivier Toni, e freqüentou o Ferienkurse fuer Neue Musik de Darmstadt, Alemanha, em 1962 e 1968.

Foi um dos signatários do Manifesto Música Nova, publicado pela revista de arte de vanguarda Invenção, de 1963. Foi porta-voz da poesia concreta paulista, do grupo Noigandres. Como conseqüência dessa tomada de posição, tornou-se um dos pioneiros no Brasil no campo da música concreta, aleatória, serial integral, mixed média, experimentando ainda novos grafismos, novos materiais sonoros e a incorporação da ação musical à composição, com a criação do teatro musical, do happening.

Também professor universitário, conferencista, colaborador das principais revistas e jornais brasileiros. Gilberto Mendes foi fundador (1962) e ainda o diretor artístico e programador do Festival Música Nova de Santos, o mais antigo em seu gênero em toda a América. Como professor convidado e composer in residence, deu aulas em The University of Wisconsin-Milwauke, na qualidade de University Artist 78/79 e Tinker Visiting Professor.

No Brasil, recebeu, entre outros, o Prêmio Carlos Gomes, do Governo do Estado de São Paulo, e também diversos prêmios da APCA, o I Prêmio Santos Vivo, dado pela ONG de mesmo nome, pela sua obra "Santos Football Music", além de ter sido indicado para o Primeiro Prêmio Multicultural do jornal "O Estado de S. Paulo". Também recebeu a Bolsa Vitae, o prêmio Sergio Mota hors concours 2003 e o título de "Cidadão Emérito" da cidade de Santos, dado pela Câmara Municipal de Vereadores.

Em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, no ano de 2004, o autor recebeu a insígnia e diploma de sua admissão na Ordem do Mérito Cultural, na classe de comendador, do Ministério da Cultura, das mãos do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Ministro da Cultura, Gilberto Gil.

Verbetes com seu nome constam das principais enciclopédias e dicionários mundiais, como o Grove em inglês, o Rieman alemão, o Dictionary of Contemporarry Music, de John Vinton e vários outros. Sua obra já foi tocada nos cinco continentes, principalmente na Europa e EUA. Destacam-se, para orquestra, Santos Football Music e o Concerto para Piano e Orquestra; para grupos instrumentais, Saudades do Parque Balneário Hotel, Ulysses em Copacabana Surfando com James Joyce e Dorothy Lamoura, Longhorn Trio, Rimsky; para coro, Beba Coca-Cola, Ashmatour, O Anjo Esquerdo da História, Vila Socó Meu Amor e inúmeras peças para piano e canções.

Gilberto Mendes foi doutor pela Universidade de São Paulo, onde deu aulas no Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes até se aposentar. Fez parte, como membro honorário, da Academia Brasileira de Música, e do Colégio de Compositores Latino-americanos de Música de Arte, com sede no México.

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