sexta-feira, 13 de setembro de 2013

NOVELAS: DONA XEPA E O EQUÍVOCO DO PASSADO


Me parece que o erro da novela Dona Xepa, não é o de ser um remake.

Outros exemplos recentes apontam para soluções interessantes em revisitar uma história, como O Astro e Saramandaia, na Globo.

Mas no caso de Dona Xepa, cuja versão 2013 é interessante, o equivoco foi atualizar o cenário e manter o conceito e a personalidade dos personagens nos anos 70.

Dos anos 90 para cá, o Brasil mudou muito:

a) o convívio com uma economia estável

b) a sucessão de eleições democráticas com a eleição de um operário e uma mulher para a Presidência da República

c) a internacionalização do Brasil

d) A música brasileira hoje impera nos meios de comunicação e superam as vendas de discos e DVDs dos artistas estrangeiros

e) O cinema brasileiro se consolidou em bilheteria e entretenimento

f) Favelas viraram comunidades e personalidades nacionais se orgulham de morar nelas

f) A liberdade sexual, de costumes e expressões invadiu o cotidiano e a própria televisão e etc...

 

Com isto, o enredo da feirante que luta para criar e educar os 2 filhos e é desprezada por ambos, precisava de uma ampla reformulação, embora tenha apelo menor nos dias atuais. O movimento que vemos hoje com o direito a cotas por alunos pobres e aos alunos negros, com os programas de transferências de renda e a valorização da cultura produzida nas comunidades é um enorme respeito dos filhos por estas mulheres lutadoras que criaram e educaram sozinhas seus filhos. Quando dá certo, um filho exibe a mãe com orgulho e como referência.

A conceituação de maldade da personagem Rosália (que faz de tudo para se dar bem na vida) me parece exagerada, bem como o julgamento das pessoas em torno das atitudes da moça. Que também me parece soar envelhecido aos dias de hoje, em que foram ampliadas as práticas para a ascenção social e econômica. Num país benevolente e em que a novela se propõe a mostrar a realidade do nosso cotidiano, fica estranho condenar Rosália ao inferno, quando um Deputado é preso e seus colegas mantém seu mandato em votação secreta no Congresso Nacional.

A garota Dafne, que curte um funk e exibe-se seminua na internet, mas se ofende quando o deputado Feliciano sugere uma troca de favores também não bate com a realidade e fica claro que os personagens foram "adaptados aos dias de hoje" sem a devida conceituação.

A menina rica e boa gente Lys está caricata demais também, porque não amolece prá ninguém e fica chata julgando a todos por "ouvir dizer", antes mesmo de checar a verdade. E em que pese a boa interpretação de Ângela Leal e seu enorme talento, os textos resvalam para uma protagonista humilde demais aos tempos atuais e que "esqueceu" a auto estima e o orgulho de suas raízes. Neste contexto, dá para entender a vergonha que os filhos Rosália e Edison têm dela. A personagem não se comunica com os tempos de hoje, mas isto é fato comum entre os personagens da trama.

Eu era menino quando Dona Xepa foi ao ar com Yara Côrtes, na Globo e por isto, tive uma grande expectativa quando a novela foi reeditada na Record. A trama é boa e gosto do conjunto, mas os equívocos de reestruturação histórica e de caracterização de identidade dos personagens falhou.

Uma pena, porque a Record produziu ao menos um remake já histórico que foi Escrava Isaura e tramas que marcam a história recente da televisão brasileira, como Vidas Opostas, Essas mulheres, Cidadão Brasileiro, o fenômeno Mutantes e Poder Paralelo.

 

Aldo Moraes

Músico e Escritor

composermoraes@hotmail.com


Livros de Aldo Moraes: https://clubedeautores.com.br/authors/38412

Músicas e poemas declamados: http://palcomp3.com/aldomoraesoficial

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