segunda-feira, 24 de janeiro de 2011


OPINIÃO/O INTÉRPRETE



Leio aqui e ali sobre a desvalorização da figura do cantor nas últimas décadas.

Alías, se configura uma mudança em relação ao artista intérprete desde as mudanças na música brasileira aprofundadas pela Bossa Nova e que possibilitou aos compositores de vozes pequenas e muitas vezes não tão afinadas, se colocarem ao microfone como cantores de suas obras. Mas ali, era um contexto estético.

Nas últimas décadas, surgiram cantoras brasileiras que escrevem seus próprios versos e melodias e que não chegam a ser exemplos de composição.

Boas intérpretes ou performers como Angela Ro Rô, Marina Lima, Marisa Monte e Dona Ivone Lara são também grandes compositoras, em gêneros diferentes da MPB.

Mas e a importância do intérprete, diminuiu mesmo ?

Penso ao ouvir as novas cantoras ( por que novos cantores hoje são raríssimos ) que se limitam ao canto limpo e afinado, dentro do estilo a que se propõe. E que ficam fora de contexto: a criação do canto, a ousadia, a alegria de cantar e a descoberta. Parece que as canções são todas iguais. Como isto é impossível, me parece que as cantoras é que são todas iguais ...

E que o nobre ato de interpretar ganha solidez e nobreza cada vez mais, ao contrário do que dizem : É só ouvir Cássia Eller, uma das últimas grandes cantoras surgidas neste cenário de deserto e sem criatividade. Cássia Eller é muito diferente do gênio João Gilberto ( intérprete da voz e do violão e compositor bissexto, um autêntico criador), mas como ambos são nobres e importantes para a história da nossa música popular. E como João e Cássia são artífices, artesãos e criadores das canções, tanto quanto os grandes compositores.

Acho que a decantada " desvalorização" que cantoras dizem sentir entre a mídia e o público, deve ser repensada a partir do que elas próprias produzem, em voz e canções. Espaço para os artistas musicais, criadores ou intérpretes, vai continuar existindo. Mas quem perde é o público e a própria música.

Talvez falte correr riscos ou muito possivelmente falte criatividade ou quem sabe falte ouvir Vânia Bastos cantando Londrina, Bethânia cantando Carcará, Elba Ramalho cantando De volta pro aconchego, Cássia Eller em todo o álbum Veneno Antimonotonia, Gal Costa no disco Fatal, Elis Regina cantando Nas curvas da estrada de Santos e também ouvir Nana Caymmi, Ângela Maria, Leni Andrade, Tetê Espíndola e Marlui Miranda.

E por isto, posto neste blog, um pouco da vida de Cauby Peixoto ( comemorando 60 anos de carreira ) e de Elis Regina ( cujo aniversário de 29 anos de morte, foi há poucos dias ).


Aldo Moraes
composermoraes@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário