segunda-feira, 18 de outubro de 2010



JOVENS DE HELIOPOLIS TOCAM NA EUROPA

Da maior favela de São Paulo, Heliópolis, onde vivem 130 mil pessoas, saíram jovens brasileiros para ser ovacionados na Europa.

Os 74 meninos e meninas, de 15 a 27 anos, foram tocar na terra de Beethoven, na Alemanha, em um dos festivais mais prestigiados do continente.


”Arrumei as minhas malas, mas eu falo: será que eu vou mesmo?”, conta Tayane de Jesus, 16 anos.

A Orquestra Sinfônica nasceu de uma tragédia, em 1996.

No dia 17 junho de 1996 um incêndio com quatro mortos, entre eles um bebê, comoveu o maestro Sílvio Baccarelli.

O projeto social criado por ele ensinou música erudita as crianças da favela.

Catorze anos depois, a participação no Festival Beethoven é o reconhecimento que faltava por tantos esforços. Até físicos.

“È terrível levar um instrumento desse tamanho dentro do ônibus cheio”, afirma Rafael do Nascimento Figueiredo, de 19 anos.

Do primeiro grupo de alunos, Denise entrou na sinfônica adolescente.

“É muito importante o apoio da minha mãe e eu sei que ela vai estar feliz daqui e eu de lá porque eu vou realizar um sonho meu”, diz Denise Alves de Souza.

Doze horas no ar. Entre cansaço e euforia, o mundo que se abre pra esses brasileiros é mais cordial do que imaginavam.

“A gente tinha uma ideia assim que os alemães em especial eram muito fechados e na verdade, a gente está vendo uma coisa totalmente diferente”, observa Daniela Correia, 26 anos.

“Eu achei muito lindo, muito verde, bem diferente de São Paulo, Pequeno, mas é tudo muito lindo”, comenta Natália Aragão, 24 anos.

“As mulheres daqui fazem de tudo pra ter um cabelo pixaim e as do Brasil fazem de tudo pra ter um cabelo igual delas daqui. Então eu to me sentindo. Para mim, está sendo um grande sucesso o meu cabelo ‘fuá’ do Brasil”, brinca Graziela Teixeira, 26 anos.

As exigências do maestro Tibiriçá aumentam com o passar das horas.
Um convidado famoso chega pra tocar com eles. O que atraiu o solista israelense Shlomo Mintz foi o entusiasmo desta orquestra jovem.

Foi um ritmo intenso, com longos ensaios duas vezes por dia. A orquestra de Heliópolis se preparou nas melhores salas de concerto de Bonn. É grande a responsabilidade de tocar a 8º sinfonia de Beethoven, na terra natal do gênio da música alemã.

A diretora do festival aprova a interpretação apaixonada dos brasileiros.

“É como uma canção que se transforma, mas que continua bonita”, diz Ilona Scimel.

Os nossos músicos querem saber mais sobre a vida atormentada do grande artista. E visitam a casa onde ele nasceu, em 1770.

A turma de Heliópolis diverte os alemães com samba, chorinho e simpatia.
Denise vai voltar pra casa cheia de presentes. É hospede de uma família local, como todos da orquestra.

A mãe e o pai, que a adotaram por uma semana, a recebem com carinho. E com um conforto jamais visto. Um quarto só pra ela.

“Na minha casa são 4 filhos e sempre foi um quarto pra nós quatro”, conta Denise.
Enfim, o grande dia. Tudo para brilhar.

Faltam poucos minutos. Os músicos já estão aqui em fila pra entrar no palco, nesta que será a primeira apresentação internacional da orquestra de Heliópolis. E eles vão entrar com uma evolução muito brasileira. Uma coreografia do diretor teatral José Possi Neto.
A 8ª Sinfonia de Beethoven convence a platéia. E o bis final arrebata o publico.
A festa nos camarins segue ao som de marchinhas. E até do Hino Nacional.

“A gente tem acompanhado o trabalho deles durante anos e vê que a evolução não é fantasia. É real”, comenta Silvio Baccarelli, maestro e fundador do Instituto Baccarelli.

De Heliópolis, a maior favela de São Paulo, para a consagração na Alemanha.
E este é apenas o começo.

“Meus planos são continuar estudando bastante que eu sei que os resultados virão”, almeja Rafael Figueiredo.

Fonte : G1

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