sexta-feira, 30 de abril de 2010




O Solista

Recentemente lançado no Brasil, O Solista é sobre um homem negro, que mora nas ruas de Los Angeles, sofre de esquizofrenia e que é descoberto pelo jornalista Steve Lopez, articulista do Los Angeles Times, de quem se torna amigo.

Robert Downey Jr faz o jornalista que tem uma entrada simbólica no filme, fruto da imaginação do diretor e do eficiente roteiro: ao sair de bicicleta da redação, Lopez sofre um pequeno acidente e fica hospitalizado para avaliação. A direção precisa de Joe Wright nos apresenta Los Angeles através da diversidade étnica na recepção do hospital e na cena seguinte, o cérebro do jornalista é examinado.

Liberado, no fim do outro dia, Lopez encontra, por acaso, na rua, o músico Nathaniel e logo que o vemos, percebe-se tratar de alguém com perturbações mentais. Nathaniel ouve a voz de seu pensamento que ele interpreta como música constante. Ao mesmo tempo a música que sai do violino ( e do violoncelo ) que toca, ilumina e pacifica as ruas e os becos de L..A.

Quando Lopez se depara com a extrema dependência de Jr em relação à amizade, o jornalista fica na defensiva e incomodado. Busca um tratamento para o solista, que reage e questiona a liberdade e o conceito do que é loucura ou normalidade. E então, Lopez começa um processo de compreensão daquilo que corresponde à verdadeira amizade e do quanto, podemos aceitar o outro sem mesmo concordar com suas ações e modo de vida.

Musicalmente, a 3ª Sinfonia de Beethoven ( 1770-1827 ), pontua a mágica e a instabilidade do personagem.Esta Sinfonia, conhecida como Heróica, é uma peça revolucionária entre as composições de Beethoven, por que feita ainda no período chamado clássico, antecipa não só as mudanças que viriam com o Romantismo, mas mesmo o período atonal do início do século XX. É uma obra com trechos atonais, quebra paradigmas de temas e linearidade, tem trechos camerísticos e mudança de conceito em movimentos tradicionais. Em minha opinião, a mudança se acentua com a 4ª e 5ª Sinfonias, principalmente em alguns aspectos,como o tema enxuto, no caso da Sinfonia nº 5.

A interpretação de Jamie Foxx é reveladora do grande ator que encarna o músico Nathaniel Jr: não exagera na interpretação de um esquizofrênico; tem ternura e emoção ao tocar e mas imagens de flash back, já demonstra, sutilmente, os problemas iniciais de Jr. O filme me fez lembrar de Arthur Bispo do Rosário ( 1911-1989 ), operário da Light, que teve uma experiência mística em 1939 e uma vez, internado até a morte na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, tornou-se um artista diferenciado com uma poética voltada à obsessão de preservar elementos desprezados pelo consumo para entregar à Deus, no dia do juízo final. O artista negro hoje é uma referencia internacional e comparado à Marcel Duchamp e Arman.

O filme nos apresenta uma comunidade da periferia de L.A, que inclusive participa como figurante da película e conhecemos o LAMP, abrigo para moradores de rua e a Filarmônica de Los Angeles, que faz um ensaio da 3ª Sinfonia, para que Nathaniel possa ouvi-lá.

É um filme muito interessante e que possibilita diversas leituras ...

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