segunda-feira, 7 de dezembro de 2009



A POÉTICA DE TOM JOBIM ( Parte II )




Wave/ Este seu olhar

“ Vou te contar, os olhos já não podem ver...
Coisas que só o coração pode entender, fundamental é mesmo o amor...
É impossível ser feliz sozinho.”

“ Este seu olhar, quando encontra o meu
Fala de umas coisas que eu não posso acreditar
Doce é sonhar, é pensar que você gosta de mim, como eu de você”.

São duas canções escritas inteiramente por Tom Jobim e que têm em comum a estrutura musical e o enfoque poético. Wave fala de coisas que os olhos já não podem ver e que só o coração pode entender.

Este seu olhar, narra o encontro de dois olhares e namorados e que sem conversar, dialogam entre si. O poeta sonha que “ ela gosta de mim”... mas a ilusão, quando se desfaz, dói no coração , de quem sonhou demais.
Em Wave, o coração proclama que “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”. As imagens: a cidade, o cais, a onda do mar e até as estrelas, que esquecemos de contar, ilustram a delicadeza dos namorados, em que as paisagens urbanas ou do campo, são meros adornos do que é essencial: o amor!

Lígia
“Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba
Não vou à Ipanema
Não gosto de chuva, nem gosto de sol.
E quando, eu me apaixonei, não passou de ilusão
O seu nome não sei, fiz um samba-canção das bobagens de amor
Que eu iria dizer, Lígia, Lígia...

Luíza

Rua ...
Espada nua
Bóia no céu, imensa e amarela
Tão redonda lua, como flutua
Vem navegando o azul do firmamento e num silêncio lento,
Um trovador cheio de estrelas...
Escuta agora, a canção que eu fiz, pra te esquecer, Luíza...
Eu sou apenas um pobre amador apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda, amor!, que eu sei que embaixo desta neve mora um coração.

Luíza, Lígia, Maria Luíza, Gabriela, Ana Luíza dão nomes à canções de Jobim e revelam-se aspecto da valorização do letrista , de forma ampla, à mulher: A bem amada, amiga, irmã, filha, a mulher que, distraidamente, passa na rua.... Tom dizia que uma mulher bonita, merece ao menos um olhar. Sobre o casamento com Ana Beatriz, de 1974, ele diria em 94, que a relação amorosa e o nascimento dos filhos mais jovens, o teria feito renascer.
Luíza é uma canção revolucionária, do ponto de vista musical: Jobim utiliza as 12 notas da escala, gerando uma atmosfera de atonalidade, mantendo no entanto, um centro tonal durante a maior parte da obra. É uma valsa, de melodia escrita para ser tocada por uma flauta, por exemplo, e que apesar da complexidade, soa bastante natural. Poético, o compositor, diz:” Eu sou apenas, um pobre amador, um aprendiz do teu amor”.


Querida
Aborda duplamente a valorização e generosidade diante do ser amado e a preocupação com a curta existência humana:
“Longa é a tarde
Longa é a vida
De tristes flores
Longa ferida
Longa é a dor do trovador, querida.”

A mulher, como poucas vezes em música popular, é aqui tratada com sentimento de profundo afeto e alegria. O poeta confessa seus temores ( breve é a vida), seus anseios ( longa é a arte, tão breve a vida ) e seu carinho ( você tão linda ) e pontua as frases , chamando-a sempre ”Querida”.Coloca-se na posição de aprendiz do coração ( como na valsa Luíza), pois não quer competir ou extrair nada do ser amado e permite-se tão somente amar e se deixar amar, atitude vista como contemplativa, mas que se revela fundamental para a resolução dos conflitos humanos de toda espécie.

“ A música de Tom Jobim é amor e talento. O amor de que o coração de Tom é o maior depositário: o amor pela música, pelos homens e pela travessia do Brasil.” Caetano Veloso

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